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O ESTRANHO CASO DO EFEITO PLACEBO 

            Joaquim Fernandes*

 

            Os placebos são tratamentos sem valor terapêutico específico; no entanto, contribuem para que muitos pacientes melhorem o seu estado, na generalidade das patologias. Por isso, quando não se controla esse efeito, nos ensaios terapêuticos, considera-se geralmente que os resultados não são fiáveis. O biólogo inglês Rupert Sheldrake diz-nos que os placebos têm, em média, entre um terço e metade da eficácia da medicação específicia.

            Como todas  as coisas, o placebo tem a sua história: é a primeira palavra de um cântico que fazia parte dor ritos funerários medievais - placebo domino - ou seja, “agradarei ao Senhor”. Referia-se às carpideiras profissionais que eram pagas para cantar “placebos” junto da urna do defunto. Com o tempo, o termo passou a ser aplicado a bajuladores e parasitas sociais. Surge, enfim, num dicionário de Medicina de 1785, em sentido pejorativo, significando “método corriqueiro de medicina”.

            O efeito placebo manifesta-se com mais visibilidade nos testes com dupla ocultação, em que doentes e pacientes pensam que está a ser utilizado um tratamento totalmente eficaz. Ou seja, quanto maiores as expectativas, maiores os efeitos alcançados. É o que se passa com as “drogas milagrosas” que, gerando inicialmente grandes esperanças, acabam por fazer decair o seu nível de expectativas. Um caso dos anos 50 do século XX, descrito pelo médico Larry Dossey, ilustra esta estranha reacção:

            A um homem com cancro, em estado avançado, deram-lhe uma injecção única de um medicamento experimental, Krebiozen, na época tido como “milagroso”. Os resultados deixaram o médico assistente estupefacto: os tumores haviam-se “derretido como bolas de neve”. Mais tarde, o doente viria a ler uns estudos que davam o medicamento como ineficaz; o cancro recomeçou a alastrar.

           Nessa altura, o médico, agindo por palpite, ministrou-lhe um placebo - água simples - por via intravenosa, dizendo que era uma nova fórmula do Krebiozen. O cancro voltou a atrofiar, de modo espantoso. Até que o paciente voltou a ler nos jornais o veredicto oficial da Associação Médica Americana: o Krebiozen era um medicamento inoperante. O paciente perdeu a fé por completo e morreu poucos dias depois.

           Placebos e nocebos ( placebos “negativos”, ou aquilo a que os antropólogos chamam de “mortes por enguiço”) dependem das crenças culturais. Nem a medicina científica parece escapar a este caprichoso domínio da mente sobre o corpo. Dito de outra forma: a crença mata, a crença cura.

  * Docente e investigador universitário
 

  
      

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